O que é Slow Food?

Ontem a noite num aconchegante bar da Travessa do Centrinho de Floripa chamado Canto do Noel aconteceu o encontro do Green Drinks Floripa com a temática "O Movimento Slow Food e o Convivium Mata Atlântica". E eu tava lá para entender mais sobre esse movimento que vem se pautando como o contrário do que é Fast Food e que só por isso já me despertava muita curiosidade. No nome da pra perceber: slow food em inglês significa comida lenta, enquanto fast food seria a comida rápida. 



Quem apresentou a rede foi Fabiano Gregório (cozinheiro, gastronomo E advogado) que participa do Convivium Mata Atlantica do Slow Food aqui em Santa Catarina. O movimento está em quase 180 países e iniciou na Itália em 1986, quando uma rede de fast food ia se instalar perto de uma praça em Roma (Trinitá del Monti) e a resposta de um grupo da sociedade civil organizada foi fazer a maior macarronada do mundo até então (!!!!). A partir dai a rede vem crescendo com projetos que são um contraponto as comidas rápidas e industrializadas, refletindo sobre o valor nutricional dos alimentos e trabalhando com as culturas locais. Os objetivos do Slow Food são trabalhar com o desaparecimento de tradições culinárias, discutir a procedência dos alimentos e o ritmo frenético da vida atual. O SF defende os alimentos de forma que sejam: BONS (sabor e sazonalidade), LIMPOS (modo de produção que respeite a mãe terra) e JUSTOS (retorno $$ justo ao produtor local).


Terra Madre Day (encontro da rede de produtores). Fonte: site http://www.mataatlanticaslow.org
O movimento se apresenta nos formatos: redes de convivium (células locais, aqui no Brasil tem 28, aqui em santa tem 3), rede terra madre (rede de produtores) e Fortalezas (produções financiadas por outros países ou fundações). Em Floripa há o Convivium Mata Atlântica, no qual o grupo trabalha com projetos como Educação do Gosto, Conscientização de consumo, entre outros, o Engenho de Farinha (Cepagro na UFSC) e o Pinhão da Serra Catarinense (Lages e Urubici). Estão para serem abertos mais células ligadas a rede em2014 ;)


Experimento da Slow Beer Juçara feita de açai pelo Convivium Mata Atlantica de Floripa em parceria com Saint Beer de Forquilinha. O Convivium ajudou a inserir na Arca do gosto os produtos locais: pinhão, palmito juçara e o berbigão. Em 2014 vão indicar: as vieiras, os butiás, farinha polvilhada, bijajuca, três espécies de mel de abelhas, tubuja e guaraipo.
O bacana é que eles vão fazendo um trabalho de fomento a culinária local, trazendo alimentos que estão para serem "extintos" da produção devido a fatores como economia e mercado, para o que chamam de Arca do Gosto, um catálogo internacional de produtos em extinção. Agora na Semana Santa tem até uma campanha "Slow Fish" para a população catarina comprar peixes com estoque na natureza, não desequilibrando as espécies. Os peixes indicados são (anota aí!): corvina, guaivira, sardinha, espada, vieira, ostras, marisco, berbigão. 

Muito bem Slow Food!

(abre parenteses) 

Eu venho da geração globalizante, ou seja, de quando os mercados brasileiros assimilaram de uma vez por toda tudo que é "de fora" e o auge da alegria era tomar refri com bolacha recheada ou ir no MacDonalds pedir um MacLanche Feliz. Lembro de implorar para meus pais me levarem ver o Ronald. Como não tinhamos muitas condições financeiras íamos de vez em quando. O suficiente para eu achar aquele universo sensacional. Vindo dessa cultura de fast food, pergunto-me como nossa geração pode despertar para perceber os pontos que o slow food nos traz como reflexão.

Um dos maiores matadores do mundo é a obesidade. Em 30 anos o quadro dobrou, afetando 500 milhoes deadultos. 
Além disso, esses tempos saiu uma matéria de um professor dos EUA que emagreceu 17 kilos comendo só no MacDonalds. Ele fez uma dieta balançeada de fast food! O que nos mostra o quanto a alimentação tem haver com escolhas que fazemos, a fim de ser equilibrada. E então me pergunto novamente, será que é só a harmonia do nosso corpo que importa? E a harmonia do que está ao nosso redor e que de alguma forma está conectado ao nosso ser?

Acredito que as alimentações alternativas - veganas, vegetarianas, crudívoras, entre outras - são um caminho para a reflexão proposta. Simplesmente porque te fazem procurar por receitas, falar com pessoas, desenvolver um senso sobre alimentação de forma não convencional. Quando você é um vegetariano (o mais comum hoje em dia) e entra numa rede de supermercados, passa a compreender um universo de produtos que antes não estava no seu hábito. Não estou falando que são alternativas certas ou erradas para nos alimentarmos, mas sim que trazem essa reflexão acerca o universo alimentar, pois rompem radicalmente com a cultura da comida rápida e industrializada que estamos imersos. Outros caminhos para despertar, na minha opinião, vem da compreensão ambiental, do envolvimento com conscientização de animais, plantas, espécies e da conexão dos nossos seres com os elementos sagrados da natureza. E aí entra meu segundo questionamento. Se são nossas escolhas que pautam nosso equilíbrio, até que ponto estamos pensando a nível coletivo de planeta terra se não calculamos os riscos que estão dados ao ambiente que nos inserimos? E até que ponto o equilíbrio é equilíbrio? Afinal, não há separação entre natureza e ser humano, pois SOMOS natureza. Por mais que escolhemos comer como o professor estadunidense da matéria ali para ter uma alimentação OK, estamos realmente com a compreensão daonde aquilo ali tá vindo? De que forma é produzido? Plantado? Colhido? Abatido? E como impacta a produção local?

Esse hamburguer é saudável, "do bem". Uma das modas da culinária alternativa hoje é reproduzir a junkie food de uma forma saudável para atrair consumidaores: healthy junkie food.
Bem, creio que são muitos outros questionamentos que podemos levantar aqui. Até porque vivemos num país que nunca fez reforma agrária e que possui um dos mais elevados índices de uso de agrotóxicos do mundo. Quase 21% da população vive com menos de 5 pila por dia. E que ao mesmo tempo, possui um potencial cultural e de riquezas naturais incrível para alavancar uma gastronomia alternativa e sustentável exemplar =)

E tu, o que pensa?

(fecha parenteses)

Para quem quer conhecer mais sobre o Slow Food, o site oficial do movimento no Brasil é esse aqui. A pagina do facebook do Convivium Mata Atlantica pode ser vista e curtida aqui. O Green Drinks faz encontros em Floripa mensalmente, dá pra propor debates relacionados a realidade socio-ambiental e participar do grupo. Eles estão no facebook aqui.

Por fim, deixo uma frase apontada ontem durante o encontro para refletimos no dia de hoje: 

"Comer é um ato agrícola, e produzir deve ser um ato gastronômico" (Weidel Berry)



Beijos da Ju

7 comentários:

  1. OI Ju, queria ter ido ontem mas não deu!
    Super curto slow food porque acho que é bem esse tipo de questionamento que quero fazer com a alimentação. Não adianta só ser saudável pra mim, se para a natureza, para os produtores agrícolas, continua sendo uma exploração. Perfeito não dá de a gente ser, mas tem como tentar se adequar ao que a gente acredita. :)
    Existe também aqui em floripa um grupo de compras coletivas eco-solidárias. Eles mandam por email uma lista enorme de vários produtos de vários produtores diferentes e tu faz o pedido por email.. Tudo orgânico e natural. A intenção é diminuir os intermediadores (supermercados, etc) pra que o preço que paguemos seja justo e o produtor também receba um pagamento justo. Acho que tu vai gostar, o site deles é esse http://comprascoletivasdailha.blogspot.com.br/

    Fiz minha primeira compra esse mês, dia 16 to indo buscar! :)

    Beijos Ju, tá lindão o blog!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Massa Lidi! Valeu pela dica! Ontem a moça do compras coletivas tava lá mas acabamos não conversando. Vou participar, concerteza. Gostei da proposta do slow food também, e sabe que tem um convivium la na ufsc, vou pesquisar dps te conto! beijos

      Excluir
  2. A experiência do professor americano foi patrocinada pelo Mc Donald's, tenho os dois pés atrás nos resultados desses exames! Prefiro a versão do "Super Size Me", bem mais real a realidade americana...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredito que tenha melhorado, afinal ele era super sedentário e não tinha um ritmo/dinâmica de dieta antes. Mas não justifica a procedência dos industrializados.

      Excluir
  3. olá Júlia!! Sempre participamos do Green Drinks Floripa, mas ontem não conseguimos ir ao encontro, adorei sua matéria sobre o Slow food. Eu e o Rodrigo temos um projeto com os mesmos valores que você escreve aqui. Entre no nosso site e conheça mais nosso projeto: www.plantepramim.com.
    Estamos criando em Floripa uma rede de agricultores orgânicos e consumidores, para aproximar o consumo saudável e o comércio justo!!
    Até o próximo encontro. E parabéns pelo post!!
    Abraços Suzeli!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. que bacana Suzeli! adorei a plataforma de voces. me cadastrei! até mais, beijo!

      Excluir
    2. Que bom Júlia!! estamos começando, os agricultores vamos começar a cadastrar e consumidores já temos alguns e vamos começar as divulgações. Tudo para deixar todos nós mais conectados com os alimentos e principalmente uma relação com os agricultores que os produzem!
      Beijos!!!

      Excluir